Vivemos um momento bastante difícil em nosso país - e porque não dizer, em nosso mundo? Com o crescimento das redes sociais e sua popularização, todos tivemos acesso a uma espécie de palco particular, onde podemos expressar nossas opiniões e falar sobre o que desejarmos. E no momento em que isso começou a acontecer entendemos a real dimensão de nossos problemas.
Eu não acho que as redes sociais e este espaço livre de expressão tenham piorado as coisas. Acredito que apenas escancarou aquilo que já havia dentro de cada um, mas que era silenciado ou dividido apenas com algumas poucas pessoas com quem se entrava em contato ao longo do dia.
Com a proximidade das eleições e os ânimos já alvoroçados por conta de toda a barbárie política que se escancarou em nosso país, acessar as redes muitas vezes tem deixado de ser um hobby agradável. É frequente nos depararmos com opiniões espinhosas e que muitas vezes batem de frente com aquilo em que acreditamos. E então temos as opções de deixar passar ou de aproveitar o campo dos comentários ou mesmo a sessão de criação de posts para expressar nossa própria visão sobre o tema abordado.
Mas o ponto que quero discutir aqui é nossa indignação com a opinião alheia, quando ela é contrária à nossa. A tolerância ao outro parece item cada vez mais raro. E é frequente alguém que pensa diferente ser considerado inferior intelectualmente. Esquecemos que todos somos moldados de forma diferente uns dos outros. Nossas opiniões não são frutos de crenças óbvias. O que é óbvio para mim não necessariamente é óbvio para o outro. Todos formamos nossas opiniões e ideias baseadas em nossas vivências - e cada um tem um conjunto de vivências diferente do outro. As vivências pessoais de cada um, somadas à filosofia do grupo de pessoas com quem compartilham suas vidas, e a pontos de encontro com as crenças da sociedade da qual participam é que desenham suas próprias crenças. Porém este conjunto de vivências, de filosofias de grupo, de sociedades, podem ser muito diferentes daquilo que forma as crenças do outro. E é importante entendermos isso, pois só assim perceberemos que o óbvio para mim não é óbvio para o outro.
Somado a esta nossa dificuldade de entender que cada um pensa de acordo com o que viveu particularmente, temos o tal "algoritmo" das redes sociais - que cada vez mais estão caminhando para possuir um único dono. Veja bem, o algoritmo do Facebook e do Instagram, principalmente, contribuem para que você veja mais daquilo com que mais se identifica, e menos daquilo que não gosta. A proposta destas redes é te entregar cada vez mais conteúdo que te agrade, para aumentar seu período de acesso e para ter mais eficiência na entrega de publicidades que de fato te interessem (e consequentemente te façam comprar e gerar renda para a própria rede). E isso é conseguido com base naquilo que você curte. Se você gosta de receitas veganas, por exemplo, vai curtir um post sobre o tema cada vez que vê-lo e vai dizer à rede social que você gostou daquilo. Entendendo que você gosta disso, ela vai fazer com que apareçam mais posts deste tema para você. E é assim que se forma a sua timeline. Por isso você acaba vendo mais vezes os posts de pessoas que pensam igual a você e menos posts de pessoas que pensam diferente - e isso te dá a ilusão de que você pensa como a maioria, e de que sua opinião é óbvia e a única aceitável, e quem não pensa igual a você só pode ter problemas mentais ou ser muito ignorante. E veja bem, é bem provável que você esteja apenas fechado em uma minúscula bolha com uma minoria e acreditando que sua opinião é que é a certa.
A questão é: muitas pessoas sabem de tudo isso que falei aqui, e no entanto seguem sendo intolerantes. Minha intenção aqui não é responder de forma definitiva a esta questão, simplesmente porque não há uma resposta única e não sou detentora da verdade. Foco na citação abaixo:
De que eu desconfio então? Desconfio que nos falte amor ao próximo. Desconfio que nos falte tolerância. Desconfio que nos sobre aquela visão limitada ao nosso próprio umbigo.
Mas desejo sinceramente que todos passemos a refletir sobre o que pensamos a respeito do outro. A começar por mim mesma, pois sou exatamente uma dessas pessoas que precisa pensar mais a respeito disso. São tempos difíceis. Mas quero realmente mudar minhas visões e perceber o outro cada vez mais como alguém que merece meu respeito e atenção.
E você, o que pensa sobre o assunto?
Beijão.
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