Pessoalidades

... Auto estima ...

19:22Denny Baptista

Imagem DAQUI.

Posso dizer que em 80% da minha vida me senti feia, ou no máximo aceitável. Desde pequena sou gorducha, e isso logicamente sempre me rendeu muitos apelidos. "Gorda baleia, saco de areia" falado cantadinho por colegas. Gorda e baleia era apenas o básico, o pessoal tem uma criatividade incrível.

Fui crescendo e ficando cada vez mais no meu canto. Até a 8ª série lembro de ser aquela aluna quietona, estudiosa, que se dava bem com a maioria dos colegas, mas só podia chamar de amigos uns poucos. Nunca fui de me abrir com absolutamente ninguém. Meus sentimentos eram meus demais pra compartilhar. Ninguém vivia a minha realidade. Minhas colegas, todas com peso normal ou até magras demais, mas gorducha era só eu. Sempre. E quando alguém resolvia me provocar, já sabia como. 

Sempre fui descuidada comigo mesma. Meus seios cresceram muito rápido, menstruei um mês antes de completar 11 anos, ou seja, além de gorda, era peituda e totalmente fora do padrão dos demais colegas. Vivia me escondendo dentro de blusas e calças largas, tênis masculino. Minha mãe insistia em me vestir como menina, sem sucesso. Tive minhas paixonites, mas sempre em segredo. Nunca achei que podia ser amada pelo que eu era. Vivia de cabelo solto, porque achava que com cabelo preso ficava mais gorda ainda. Um dia, na 7ª série, prendi o cabelo e ganhei um novo apelido: "Colinha". De cola = rabo de cavalo. O pessoal curte apelidar, mas esse nem liguei. Se discutisse com alguém, fato raríssimo, visto que eu não era vista nem o suficiente para arrumar confusão, a primeira coisa era atacarem meu excesso de peso. 

Quando mudei de escola, de turma, de ares, me soltei um pouco mais. Fiquei mais falante, foi como ter um recomeço. Fiz novas amizades e me abri um pouco mais. Mas ainda seguia me achando feia, desarrumada, e com o coração fechado. Tanto que até poucos dias após completar 18 anos, nunca sequer havia beijado um guri. E quando beijei, foi meio que por obrigação de tirar esse "estigma" de nem saber o que era isso. Minha melhor amiga, que era parecida comigo (gorducha, fechada e nunca havia beijado) já havia tido seu primeiro beijo no ano anterior e eu nada.  Então "fiquei" (só beijo, ok) com um amigo do irmão dela, em uma viagem a Rio Grande. Não sei o que eu tinha na cabeça. Mas de certa forma, me tirou um peso na consciência e destravou um pouco. Porque, pela primeira vez, permiti que alguém se aproximasse além da minha chamada "margem de segurança".

Me mudei de cidade, emagreci (pela primeira vez tive um peso normal) sem dieta mesmo, não me perguntem porque, mas em pouco menos de 2 anos, lá se foram quase 30 Kgs. Cidade interiorana, nada de stress, muito verde, acho que tudo me acalmou e me fez ficar mais centrada, tirando meu foco da comida.  Comecei a ser vista, notada, paquerada e mais alguns beijos aconteceram. Tive namoros rápidos (basicamente pouco mais de 2 meses, ou menos), porque ou me entregava demais e era enganada, ou me entregava de menos e acabava desapegando da pessoa. E curava a dor de um com outro. Até que encontrei meu marido. Ele, sem pretensão alguma de casar, eu sem pretensão alguma de namorar, queria um pouco de sossego. Mas ele me pediu em namoro, resolvi aceitar, não tinha nada a perder. Enfim, cá estamos até hoje.

Voltei a engordar com o passar do tempo, e emagreci novamente pro casamento. É basicamente assim: quando estou magra, me sinto bonita, minha auto-estima fica ótima. Aí engordo, e me trato como uma velha, me detesto, me odeio, não entendo como alguém pode me achar bonita.

Da adolescência pra cá, não mudou muita coisa. Ainda sinto olhares em cima de mim quando vou comer. Mesmo que não existam. Ainda percebo julgamentos com relação ao meu corpo. Ainda ouço comentários sobre o quanto engordei nesses últimos anos (agora um pouco menos porque faz tempo que não vejo quem fazia isso), que nunca estive tão gorda, ainda que de um jeito "delicado". Mil pessoas me dando toques sobre dietas da moda. Ou sabe, aquele dia em que passei em uma construção e ouvi, lá do 10ª andar: "E aí gordinhaaaa!". Humilhante. 

Mas sabe, alguma coisa mudou. Acho que o fato de estar me cuidando um pouco mais, me alimentando melhor, está me fazendo bem. A perda de peso é lenta, lenta, mas a cabeça está acompanhando aos poucos. Até pouco antes do post sobre cuidados de beleza, meu único cuidado de beleza efetivo era com os cabelos mesmo. De resto, nada. De vez em quando uma limpeza de pele. Mas comecei a me cuidar, usar hidratantes, perfume. Usar base, um bom rímel, batom bonito. Nada demais, mas que aos poucos estão me fazendo retomar o amor que já senti por mim mesma.

Logicamente, olhando no espelho ainda vejo o quanto estou gorda, baleia, saco de areia. Mas então olho pro meu rosto e vejo a possibilidade por trás dele. Olho pro meu corpo e vejo que ele pode ser melhor, e como ele pode ficar. Passo um bom rímel e observo como meu olhar fica bonito. Um batom nos lábios e me sinto mais mulher. Um esmalte nude nas unhas, brilhosas, me fazem sentir melhor também. Pés macios, pele cheirosa, cabelos brilhantes.

Até meu marido percebeu isso, e está cada vez mais carinhoso. Não que não fosse, mas agora faz elogios todo santo dia, várias vezes, me faz mais carinho ainda, e olha gente, o homem sempre foi um amor, cheio dos cafunés, carinhos e beijinhos no rosto todo. 

Sim, estou gorda. Mas hoje, pelo menos hoje, me sinto bonita. 



Beijos. 

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10 comentários

  1. Denny, falou tudo!! Auto-estima é tudo nesta vida!Pior que se a gente não se cuidar, fica ruim né?Eu também estou tentando criar uma rotina de cuidados,ajuda bastante!Beijoss

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  2. Essa bendita auto-estima...

    Bom, eu me acho uma gorda baleia, saco de areia e tem muita gente aí que parece que ADORA ficar só falando disso, se preocupando com isso!

    Acho você linda Denny! Por fora e por dentro! =D

    Como disse uma prof lá de onde trabalho: "Você está feliz como você é? Está satisfeita consigo mesma? Isso é o que vale!" (eu pensei: fácil falar, manequim 36! Mas o que vale é a intenção, né? rsrsrs)

    Bjoo

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  3. Que história linda a sua. Li todinha viu. Continua te cuidando. Normalmente dizem que não há nada melhor que ter a auto estima em alta. Quando nos sentimos bem, ninguém vê os defeitos, só as coisas boas. bjubju

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  4. Bom dia Denny. Dos teus textos que venho acompanhando desde que conheci seu blog esse foi o mais profundo deles. Não é fácil encarar nossos desafios, muito menos expor ao mundo e ao pensamento crítico aquilo que somos. Mas é bom ser ouvido, visto e com certeza compreendido. Todos nós temos nossos déficits de alto estima. Os magrinhos e fracotes como eu tbm tiveram seus dias de terror. Quem já não se olhou no espelho querendo se esconder dos padrões modernos? Você sempre foi e será uma super amiga. Não devia ser diferente em se casar com um grande homem pois sei que você é e sempre será uma grande mulher. Cuidar da saúde do corpo também é cuidar da saúde da mente e da alma. Fica a dica para mim me cuidar também e assim como você tem feito, devo me aceitar como sou. Porque agradar todo mundo se as pessoas que realmente fazem diferença em nossa vidas nos amam como somos? Obrigado pelor seu texto e em compartilhar com a gente. Grande abraço amiga!

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  5. Denny, Denny... como te entendo...como somos parecidas... (LILIAM-MS).

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  6. Lindona,
    Nossa eu me sinto assim tbm eo lado amoroso na minha infancia tbm foi assim..a gordinha boazinha mas q nao ficava com ninguem !!!Como vc ja sabe tbm emagreci td e dps engordei td de novo..mas dessa vez quero mudar nao sou o corpo mas a minha cabecinha tbm..pois se engordasse 2 quilos ja me sentia um monstro,,,sem exageros, nao queria sair de casa e td mais, por isso resolvi emagrecer de novo ja perdi 10 quilos agora faltam mais 10.. e estou conseguindo construir a minha auto estima devagarzinho. pois nao quero depender dos qulinhos a mais na balanca para me sentir bonita.Bjokas!!!Estamos juntas outra vez!!!! Kate Glika

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  7. Oi Denny.

    Por muito tempo eu fui assim também. Eu tive ma fase que queria ser menino. Ou seja, alem de gorda e peitura, eu queria ser menino.

    Hoje eu lembro do tempo de escola e penso, como aquelas pessoas são idiotas, porque, se é magra, xinga que é magra, se é gorda, xinga que é gorda.

    Sempre me xingaram de gorda baleia, saco de areia (comeu banana podre, morreu de caganeira), mas sabe? Eu sempre achei esse "xingamento" TAO DIVERTIDO! Porque meu, não faz o menor sentido!

    Bom. Você disse aí que ainda é gorda baleia saco de areia. Sério mesmo que você é isso? Porque não faz o menor sentido! heheheheeh Cuidado pra não comer banana podre.

    Teve um dia, na minha vida, que eu me descobri. Não sei se foi de uma hora para outra, mas acho que foi devagar. Sei que passei a me amar, e isso mudou tudo. Eu ainda tenho preguiça de passar baton e até de colocar brinco todo santo dia, mas isso não faz eu me odiar.

    Quem sabe um dia você também não pare de se achar gorda baleia saco de areia, e se ache só com mais peso do que poderia.

    Ah, eu fui dar meu primeiro beijo aos 24 anos. E só beijei 3 caras na minha vida. Dois deles idiotas, e o último meu marido <3, então eu tô pior no ranking de beijoqueira =P

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  8. Danny, sua história é triste, pois o preconceito na vida de uma pessoa é marca para a vida toda.
    Nunca fui gorda, mas sofria com outros preconceito e me lembro com tristeza.
    Depois que me casei fiquei muito gulosa e como de tudo. No total engordei 11 kilos e atualmente comparando com o peso em que me casei estou com 7 kilos a mais. Faço faculdade e as meninas na sua maioria são magrinhas e é meu sonho voltar a ficar magra e colocar roupas que não fique pegando.
    Algumas pessoas podem pensar que não estou gorda, mas somente quem tem preconceito de si mesma sabe o que estou falando.
    Me sinto mal de encontrar pessoas que me conheceram magra e agora fala "nossa como vc engordou" afff, dá voltade de sumir.
    Mas continue assim, pois quando uma roupa não esta boa ou a gente acorda naqueles dias se achando horrivel, uma maquiagem ajuda e muitoooooo.


    Danny, um tempo atras acompanhava bastante seu blog, era bem na epoca do seu casamento e depois vc enfrentou alguma doença que te fez tomar candicorte acho.
    Sinto muito pelo que ocorreu.
    Hoje estava procurando a dieta que foi a primeira a me ajudar "dos pontos" e por acaso encontrei seu blog novamente.
    É um prazer!
    Gostaria se possivel vc me respondesse uma pergunta.
    No seu blog no inicio do ano vc postou que voltaria a fazer a Dieta dos Pontos, o que houve? Vc desistiu dela ou não deu resultado?
    Quero fazer mas será que vale a pena?
    Se quiser pode responder no meu e-mail: vassoller2009@r7.com
    Bjos e vc é linda não importa o que o mundo diz, o que importa é que vc é bem casada e tem um marido e pessoas que te amam.

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  9. Oi, Denny.
    E a história se repete! No meu caso a diferença é que não sou peituda( o meu "uda" tá no traseiro!). Sempre fui extrovertida, mas sofri muito com apelidos tbm (rolha de poço).Tive a sorte de sempre ter alguém interessado em mim, apesar de me achar o ó do borogodó. Mas como disse a Gô, adolescente é muito besta!Uma coisa que sempre adorei em mim: meus cabelos! E sempre tratei de cuidá-los,acho que era o meu atrativo. Custei a me abrir pra vaidade e hoje, com 40 anos, cuido muito mais de mim! E não sei porque temos a mania de nos depreciar: tu não és uma gorda baleia, apenas uma mulher que está com excesso de peso e vai reverter essa situação!

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  10. Olá Denny, qro ti dizer q só d compartilhar sua história conosco vc já é uma vencedora. Muitas poucas pessoas tem a coragem e honestidade de falar como se sente,mesmo tantas pessoas tendo passado por situações semelhantes.Parece que em algum ponto perdemos a nossa auto estima em algum lugar,mas ao reencontrá-la vemos q a vida pode ser mais bonita.As vezes precisamos passar por certas coisas em nossas vidas e nem sabemos o pq de tnto sofrimento..mas acho que,eu dentro da minha ignorancia,que faz parte de nosso crescimento.Parabéns pelas suas conquistas.Muita força.

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